terça-feira, 6 de maio de 2014

Dire Straits, Machado de Assis e Ricardo III.

Olá! Tudo bem com vocês? Espero que sim. Comigo tudo bem. Peço desculpas pela demora, mas não tive condições de escrever antes. Ainda é complicado, pra mim, botar o bloco na rua em tantos sentidos! toin Retomei minha conta no Flickr, como já comentei e tenho muito material pra postar, o que me deixa completamente maluca! mini_gifs55 O jeito é fazer tudo aos pouquinhos. Aliás, eu vou testar um ícone, hoje, aqui no blog, pra vocês terem acesso mais fácil ao meu Flickr! th_0119h2_08 

Bem. Talvez vocês achem que o título deste post não faz o menor sentido, mas … é pra poucos (piada interna: só meu irmão e quem assistiu Copa de Elite, vão entender!) th_nana028 Na verdade, existe relação entre Dire Straits, Machado de Assis e Ricardo III. Pelo menos, na minha vida. A música, a literatura e o teatro estão entre as coisas que mais gosto! mini_gifs51 

O Dire Straits é uma banda britânica, formada no final dos anos 1970 e que esteve na estrada até meados dos anos 1990. Uma pessoa muito especial gosta muito dos caras e me motivou a ouvi-los. Eu sou, acima de tudo, uma ouvinte apaixonada de MPB, mas também há algo de roqueira em mim mini_gifs68. Cresci ouvindo Queen (minha banda internacional preferida), Beatles, Elvis Presley, Bob Dylan, Eric Clapton, Genesis, Rolling Stones, Police, Deep Purple, o próprio Dire Straits, conheço todos os hits do rock e, na adolescência, ouvia muito rock, daqui e de outros países. Minha melhor amiga do Magistério era roqueira, fã de U2, meu irmão era metaleiro (ou head banger, pra não ofender os mais ortodoxos), gosta muito de heavy metal até hoje e eu também, mas, de vez em quando. Quem me vê, tão graciosa com minhas Hello Kitties e coisas bonitinhas, e não me conhece, não acreditaria que ouço System Of A Down, Metallica e Rammstein, bandas que adoro! Tenho uma história legal sobre como descobri o Metallica, mas não é o momento de contá-la Nyah-Nyah. Então … eu tenho algo de roqueira e os moços ouvintes de rock e heavy metal, até hoje, são meus preferidos! Embarrassed smileRed heart Não que eu esteja fechada a outras possibilidades.

Passei a infância e a adolescência ouvindo hits do Dire Straits como Money For Nothing, Sultans Of Swing, Why Worry, Your Latest Trick, Heavy Fuel, Brothers In Arms, Romeo And Juliet (que marcou um dos meus relacionamentos), The Bug, So Far Away, etc. Recomendo a vocês que procurem todas essas músicas no YouTube, pra conhecê-las ou relembrá-las! Thumbs upminisom Então … aí, recentemente, tive acesso a um álbum chamado Dire Straits – The Ultimate Very Best Of (Remastered) e me apaixonei completamente pela banda e por músicas como Lady Writer e Water Of Love, que é meio melancólica, mas tem uma levadinha deliciosa! music_azul Sabe o que é você ouvir um álbum de novo, e de novo e de novo? Está acontecendo comigo. O som do Dire Strais é único e muito bom! Esta tem sido a minha trilha sonora, ultimamente, altamente recomendável!

*

Já Machado de Assis deve ter se revirado no túmulo se soube da notícia que li, no último domingo, na Folha de São Paulo online (coluna Cidadona, de Chico Felitti). Eis o link:

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/cidadona/2014/05/1445858-escritora-muda-obra-de-machado-de-assis-para-facilitar-a-leitura.shtml

Leiam a notícia, é curtinha! Mas, basicamente, uma “escritora” chamada Patrícia Secco (será parente da Deborah?) lançará em junho deste ano uma versão “simplificada” da obra O Alienista (1882), de Machado de Assis, em que frases foram encurtadas e palavras substituídas por “sinônimos” mais … acessíveis, digamos. O que Patrícia diz sobre o Machado, em si, já é o fim do mundo. E eu acabei de descobir que não posso copiar e colar a pérola aqui, vejam só! th_siro07 Quero evitar a fadiga, então, resumirei: disse a “escritora” que entende por que os jovens não gostam de Machado de Assis. Suas construções são muito longas e contêm várias palavras desconhecidas por frase. Ela “simplifica” isso. E tem a cara de pau de dizer que não modificou a obra do autor, só tornou-a mais fácil!

Eu fiquei passada, quando li a notícia. Meu irmão também e ele não é da área de Humanas, mas aprendeu a gostar de Machado de Assis (entre outros) comigo (Awww! … mini_gifs50). Como vocês já sabem, estudei Letras. Na FFLCH-USP. Mas, antes, já gostava de ler. E aprecio os clássicos. Exatamente como são. Existem adaptações muito boas de obras escritas há tempos atrás, mas elas priorizam mais a história do que o estilo dos autores, por mais cuidadoso que tenha sido quem fez a adaptação. Preciso voltar às bibliotecas infanto-juvenis, mas existia uma série de livros chamada Reencontro, com adaptações de clássicos. Muito boa! Conheci a série na adolescência, na biblioteca da escola e gostava muito do Sonho de Uma Noite de Verão, do Shakespeare, que também assisti na televisão, em outra adaptação infanto-juvenil. Vou comprar as duas adaptações que a Ruth Rocha escreveu pra dois clássicos que amo, A Ilíada e A Odisséia. Não sou contra adaptações, desde que escritas por escritores competentes, cuidadosos e respeitosos. Uma coisa é alguém adaptar uma obra, para aproximá-la do público, de preferência deixando muito claro que há o original e ele merece ser lido. Outra, completamente diferente, é uma pessoa ter a pretensão de reescrever a obra do escritor mais foda (não há palavra melhor do que esta, desculpa!) da literatura brasileira e referir-se a ele, sem um pingo de respeito e consideração, como se o Machado de Assis fosse um chato, não alguém de um talento extraordinário! Annoyed Eu tive um semestre inteiro sobre ele na faculdade e me apaixonei! Machado de Assis não deve ser simplificado, mas contextualizado. Ele viveu em outra época, em que o Brasil era diferente, mas certas coisas sinceramente não mudaram! Machado de Assis é atemporal porque tratou de temas próprios da condição humana. E … gente! Encurtar frases e substituir palavras por “sinônimos” é destruir a obra do Machado de Assis! O estilo dele é tudo, a forma como se dirige ao leitor é única! Acreditem em mim: ler Machado de Assis é um barato! Para palavras difíceis, às quais não estamos acostumados, existe algo chamado dicionário. Aprender palavras novas, é bom! Isto aumenta o nosso vocabulário e as nossas possibilidades. É a nossa língua, afinal de contas e quanto mais instrumentos temos, mais podemos brincar com ela! Machado de Assis é uma aula de como escrever, em todos os sentidos! Mas sem professores competentes e apaixonados por Literatura e História, fica difícil.

Fui pega desprevinida pela notícia. Estou montando minha biblioteca e preciso das obras completas do Machado. Mas, sem dúvida usarei este espaço pra divulgar contos, romances e crônicas dele. Na íntegra! Dom Casmurro é um dos meus livros preferidos, com Português do século XIX e tudo! Não é nenhum bicho de sete cabeças. Aliás, ninguém evolui sem desafios. Pessoas como esta “escritora” me entristecem, porque chamam os jovens de burros, incompetentes, incapazes. Se eu fosse a jovem à qual ela se refere, me sentiria ofendida. Quer dizer que não sou capaz de ler um autor, porque ele viveu no século XIX e escreveu frases mais longas e palavras que desconheço? Natural, não?! O Português dele é impecável, dá gosto de ler! E dá pra aprender muita História lendo Machado de Assis! O que falta, neste país, é gente que gosta de ler disposta a cativar leitores! Vou ler O Alienista original, só de raiva e comentar com vocês, depois! De qualquer forma, leiam Machado de Assis sem intermediários. Se esbarrarem em palavras difíceis, consultem o dicionário. E adotem algumas. Erudição é charme! Winking smile

*

Pra finalizar, uma diquinha cultural. Domingo fui ao teatro, depois de um tempão! E é uma experiência meio mágica (quando a peça é boa)! Tudo acontece naquele momento, na nossa frente. Fui a um local que adoro frequentar, o Centro Cultural São Paulo (http://www.centrocultural.sp.gov.br/). Assisti Shakespeare, Ricardo III, com um elenco fantástico, que conta com a Mayara Magri e a Imara Reis, entre outros. O ator Chico Carvalho, que interpreta Ricardo, Duque de Gloucester, protagonista da história, é muito, muito bom! A trama, baseada em fatos reais, gira em torno de todas os ardis do protagonista para conquistar a coroa que, no início, pertence a seu irmão Eduardo IV. Sem escrúpulos e através de articulações, ele elimina (literalmente) todos que estão em seu caminho. São duas horas e meia de peça, com intervalo de dez minutos, mas vale muito a pena! Ainda está em cartaz, até dia 11/05. O ingresso custa R$ 20,00. Pra maiores informações, acessem a programação do site! Eu curti e recomendo! Na foto, o ingresso e o jornal sobre a peça (muito bacana) que recebi na bilheteria!

Ricardo III

Agora, vou dormir, já passou da hora de criança estar na cama e eu tenho academia, amanhã cedo! cute_cao_14 Fiquem com Dire Straits, Water Of Love (estou completamente apaixonada por essa música! mini_gifs14). Nos vemos na próxima postagem!

Abraços,

Lunamini_gifs185

sábado, 3 de maio de 2014

Pequenos prazeres da vida: bolos simples.

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Olámini_gifs184 Adoro finais de semana! mini_gifs84 Poder sair e me divertir, ou simplesmente ficar em casa e me dedicar aos meus hobbies! … O assunto do post de hoje seria outro, mas eu preciso de fotos, que ainda não tirei, então … escreverei sobre bolos simples e/ou pequenos prazeres da vida. Eu sou uma pessoa simples e sofisticada ao mesmo tempo. Mas dou mais valor à simplicidade, ao que é muito bom e não exige centenas de recursos ou complexos e demorados processos de elaboração. Cozinhar, é outra das tantas coisas que gosto de fazer 0fb67d41. Comer, nem tanto. Comida não me dá barato. Mas, combinar ingredientes e perceber aquela alquimia tomando forma e perfumando o ambiente, é mágico! Não deve ser à toa que as bruxas vivem às voltas com caldeirões … th_06421h3_06 Desde que me tornei vegetariana, há mais de dois anos, cozinhar tornou-se uma necessidade, além de um prazer. E eu descobri uma infinidade de ingredientes e possibilidades incríveis! Engana-se quem pensa que vegetarianos não podem comer muito bem! Minhas habilidades culinárias evoluíram consideravelmente e eu acho que consigo convencer qualquer carnívoro a tentar um prato vegetariano, sem se arrepender. Um dia, escreverei sobre a minha escolha, mas já adianto que minhas razões são éticas e ambientais. Não me arrependo de jeito nenhum, porque só vi benefícios até agora! Thumbs up Não desejo convencer ninguém a aderir ao vegetarianismo, não sou vegana (e não sei se serei, algum dia), mas não posso evitar enaltecer um estilo de vida que só me trouxe coisas boas! Minha alimentação não é só vegetariana, é também saudável e o mais natural possível. É claro que, às vezes, enfio o pé na jaca, mas não abro mão do meu healthy lifestyle! Gosto muito de comida caseira, tradicional, de receitas transmitidas de geração a geração, que têm tudo a ver com a nossa cultura. Foi o contato com meus amigos estrangeiros que me mostrou o quanto a culinária brasileira é única e incrível! Aliás, eu vou morrer de saudade da comida daqui, quando estiver no exterior! aborrecido Felizmente sei cozinhar!

Poucas coisas são mais tradicionalmente brasileiras que os bolos simples. Sem recheio, às vezes com uma cobertura bem fácil de fazer, super rápidos e práticos, a companhia perfeita pra um café ou chá icon09_041 . Eu sempre gostei mais dos bolos simples que dos recheados e com coberturas, ou aqueles feitos em reality shows como o Cake Boss. Admiro quem consegue transformar bolos em obras de arte, mas não sinto o menor apetite diante de um bolo em formato de castelo, com jardim, fonte e ponte levadiça! Bolo simples tem cheiro e gosto de infância.  Quando eu era pequena, às vezes minha mãe ou avó fazia bolo e a casa ficava com aquele perfume. A hora do lanche realmente era feliz! ^^ E as receitas são muito simples: bolo de cenoura, de fubá, de coco, de laranja, de chocolate, de banana, de mel, de milho, de mandioca, mármore, formigueiro ou aquele feito apenas com os ingredientes básicos e que ninguém consegue explicar como fica tão bom! Minha família tem receitas ótimas e eu adaptei muitas delas, porque – não tem jeito – farinha branca e açúcar refinado não são legais pra saúde. Às vezes não dá pra fugir da farinha branca, mas açúcar refinado nem existe mais aqui em casa. Nós usamos o mascavo e o demerara, ou mel e melado. Houve uma época em que eu vendia bolos e o que fazia mais sucesso era um gelado, com recheio e cobertura. Não provo este bolo há milênios e provavelmente ele é doce demais para os meus padrões. Mas, posso adaptá-lo, como adaptei várias receitas da minha infância. Às vezes, não dá. Eu faço um bolo de doce de maçã (tudo feito artesanalmente) que não ficaria bom com farinha integral (que é a que eu mais uso em casa), de jeito nenhum! Então, o jeito é fazê-lo com a branca, mesmo. Ninguém precisa ter esta postura, de substituir os ingredientes tradicionais das receitas por opções mais saudáveis, até porque isto é mexer na tradição. Sem dúvida, os bolos simples brasileiros, feitos com ingredientes baratos e acessíveis, no liquidificador ou na batedeira, rapidinho, são muito mais saudáveis que os industrializados ou qualquer outra opção doce de lanche, como os biscoitos recheados, que são terríveis pra saúde e pra silhueta. Mas, acrescentar ingredientes saudáveis ou fazer substituições, é legal também! Eu descobri na culinária vegetariana, saudável e natural um prazer imenso. De fazer as escolhas certas e perceber os efeitos benéficos no meu organismo (aumento da disposição, da calma e da lucidez, melhor funcionamento do organismo como um todo, metabolismo mais rápido, pele mais bonita e a evidente eliminação de peso e gordura localizada). Mas, se vocês não são vegetarianos nem pretendem ser, não tem problema. Importante é que se arrisquem a cozinhar. É mais simples do que parece e vale muito a pena! Existem muitas opções fáceis, rápidas e práticas. É claro que cozinhar bem é uma espécie de dom, mas acho que quem realmente se interessar, pode ser bem-sucedido! Então, usarei este humilde espaço pra compartilhar receitinhas, também. Todas vegetarianas, evidentemente. Mas – confiem em mim! – é comida muito boa! Espero ajudá-los a ampliarem seus horizontes gastronômicos. Isto aconteceu comigo. E eu continuo buscando receitas, ingredientes e possibilidades!

Nada melhor pra começar do que uma receita de bolo simples, mas, saudável. Bolo de banana com granola. Encontrei a receita no livro 100 receitas sem leite e derivados, de Sabrina Sedlmayer, ed. Gutenberg. Comprei na Livraria Cultura (de Arte), do Conjunto Nacional. O livro é especialmente dedicado a quem tem intolerância à lactose, mas é bastante útil pra quem, como eu, deseja parar de vez de tomar leite e diminuir o consumo de derivados (infelizmente, ainda não sei viver sem queijo e iogurte …).

100 receitas sem leite

Eu adaptei a receita só nas medidas (no original é usado o copo americano, eu usei xícara) e diminuí a quantidade de açúcar mascavo. No mais, a receita é a mesma. O bolo é muito fácil de fazer e fica muito gostoso! Recomendo! Aproveitem o fim de semana e a temperatura mais fria e experimentem este bolinho simples e saudável! Outros virão …

BOLO DE BANANA E GRANOLA (Adaptação):
Ingredientes:

- 6 bananas nanicas
- 2 xícaras (chá) de açúcar mascavo
- 3 ovos
- 1/2 xícara (chá) de óleo de girassol
- 2 xícaras (chá) de farinha de rosca
- 1 xícara (chá) de granola  [Eu usei Kellness - Müslix tradicional]
- 1 colher (sobremesa) de fermento em pó
- 1 colher (café) de bicarbonato

Modo de Preparo:
Bata o açúcar, os ovos, o óleo e as bananas no liquidificador até obter um creme homogêneo*. Misture, posteriormente, os ingredientes secos: a farinha, a granola e, por fim, o fermento e o bicarbonato. Despeje em forma de buraco no meio, untada e enfarinhada, e leve ao forno preaquecido a 180/200 graus por cerca de 30 minutos ou até que, espetando-se um palito, este saia seco.
* Eu coloquei apenas 1 xícara (chá) de açúcar no liquidificador. O restante, misturei com os sólidos.
Dica importante:
Quanto melhor for a qualidade da granola, melhor ficará o bolo. Caso opte por comprá-la pronta, verifique os ingredientes atentamente. Observe que esta receita não leva farinha de trigo, por isso a grande quantidade de bananas, que devem estar bem maduras.
- Do livro 100 receitas sem leite e derivados, Sabrina Seldmayer, ed. Gutenberg, p.18

Este é o meu bolo:

Bolo de Banana com Granola-wm

É isso aí, espero que vocês gostem do post e da receita! Nos vemos no próximo post! Bom domingo!

Lunamini_gifs185

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Os Filhos dos Dias – Eduardo Galeano:

Olámini_gifs187 Como vão vocês? Conforme o prometido, estou aqui pra comentar um pouquinho o livro do Eduardo Galeano, um dos últimos que comprei, li e amei mini_gifs50 . É a obra mais recente do escritor uruguaio, de 2012, e deve ter dado um trabalhão já que, como eu disse no post de ontem, é uma espécie de calendário histórico com um quê de almanaque, em que o autor conta histórias, comenta episódios, acontecimentos e datas comemorativas e compartilha textos de outros autores, relacionados a um determinado dia. Organizado em meses e dias, o livro apresenta um relato curto por dia. Uma das grandes características do Galeano, na minha opinião, é a capacidade de dizer muito em poucas palavras. Os Filhos dos Dias abrange vários períodos históricos, inúmeros acontecimentos e personagens. A prosa do Galeano é gostosa, acessível, comove e faz pensar. Eu li o livro (de mais de 400 páginas) em pouquíssimo tempo e é o tipo de leitura à qual sempre é possível e prazeroso voltar! th_h261018_07 Na faculdade de Letras, tive uma professora, chamada Diva e ela dizia que ninguém pode falar a respeito de um livro como o próprio. Concordo em gênero, número e grau. Então, deixo aqui dez razões pra vocês lerem Os Filhos dos Dias, ou dez trechos da obra. Estou apenas compartilhando o que gostei, citando a fonte direitinho. Os trechos foram extraídos da 2ª edição, traduzida por Eric Nepomuceno, editora L&PM, 2012. A foto da capa está na postagem de ontem e eu comprei o livro na Livraria Cultura, do Conjunto Nacional, aqui em São Paulo. Mas, ele também pode ser encontrado aqui e aqui.

Vamos ao que interessa, então:

Fevereiro

11

Não

Enquanto nascia o ano de 1962, uma desconhecida banda – duas guitarras, um baixo, uma bateria – gravou em Londres seu primeiro disco.

Os rapazes voltaram para Liverpool e se sentaram para esperar.

Quando já não tinham mais unhas para roer, num dia como hoje receberam a resposta. A Decca Recording Company dizia a eles, com franqueza:

- Não gostamos do seu som.

E sentenciava:

- As bandas de guitarras estão desaparecendo.

Os Beatles não se suicidaram. (p.59)

*

Março

3

Libertadoras brasileiras

Hoje terminou, em 1770, o reinado de Teresa de Benguela em Quariterê. Foi um dos santuários de liberdade dos escravos fugidos no Brasil. Durante vinte anos, Teresa enlouqueceu os soldados do governador de Mato Grosso. Não conseguiram apanhá-la viva.

Nos esconderijos da floresta, houve umas quantas mulheres que além de cozinhar e parir foram capazes de competir e de mandar, como Zacimba Gambá, no Espírito Santo, Mariana Crioula, no interior do Rio de Janeiro, Zeferina, na Bahia, e Felipa Maria Aranha, no Tocantins.

No Pará, nas margens do rio Trombetas, não havia quem discutisse as ordens de Maria Domingas.

No vasto refúgio de Palmares, em Alagoas, a princesa africana Aqualtune governou uma aldeia livre, até que foi incendiada pelas tropas coloniais em 1677.

Ainda existe, e se chama Conceição das Crioulas, em Pernambuco, a comunidade que duas negras fugitivas, as irmãs Francisca e Mendecha Ferreira, fundaram em 1802.

Quando as tropas escravistas andavam por perto, as escravas liberadas enchiam de sementes suas frondosas cabeleiras africanas. Como em outros lugares das Américas, transformavam suas cabeças em celeiros, para o caso de ter de sair correndo em disparada. (p.83)

*

Agosto

11

Família

Como se sabe na África negra e na América indígena, a sua família é a sua aldeia completa, com todos os seus vivos e os seus mortos.

E a sua parentela não termina nos humanos.

Sua família também fala com você na crepitação do fogo,

nos rumos da água que corre,

na respiração do bosque,

nas vozes do vento,

na fúria do trovão,

na chuva que beija

e na cantoria dos pássaros que saúdam os seus passos. (p.257)

*

Agosto

30

Dia dos Desaparecidos

Desaparecidos: os mortos sem tumba, as tumbas sem nome.

E também:

os bosques nativos,

as estrelas na noite das cidades,

o aroma das flores,

o sabor das frutas,

as cartas escritas a mão,

os velhos cafés onde havia tempo para perder tempo,

o futebol de rua,

o direito a caminhar,

o direito a respirar,

os empregos seguros,

as aposentadorias seguras,

as casas sem grades,

as portas sem fechadura,

o senso comunitário

e o bom-senso. (p.276)

*

Setembro

7

O visitante

Nestes dias do ano 2000, cento e oitenta e nove países firmaram a Declaração do Milênio, e se comprometiam a resolver todos os dramas do mundo.

O único objetivo alcançado não aparecia na lista: conseguiu-se multiplicar a quantidade de especialistas necessários para levar adiante tarefas tão difíceis.

Pelo que ouvi dizer em São Domingos, um desses especialistas estava percorrendo os arredores da cidade quando se deteve diante do galinheiro de dona Maria de las Mercedes Holmes, e perguntou a ela:

- Se eu disser exatamente quantas galinhas a senhora tem, a senhora me dá uma?

E ligou seu computador tablet com tela touch screen, ativou o GPS, conectou-se através de seu telefone celular 3G com o sistema de fotos de satélite e pôs o contador de pixels para funcionar:

- A senhora tem cento e trinta e duas galinhas.

E pegou uma.

Dona Maria de las Mercedes não ficou calada:

- Se eu disser ao senhor qual é o seu trabalho, o senhor me devolve a galinha? Pois então eu digo: o senhor é um especialista internacional. Eu notei porque veio sem ser chamado por ninguém, entrou no galinheiro sem pedir licença, me contou uma coisa que eu já sabia e me cobrou por isso. (p.287)

*

Setembro

13

O viajante imóvel

Se não me engano, em 1883 nasceu Sandokan, príncipe e pirata, tigre da Malásia.

Sandokan brotou da mão de Emilio Salgari, como outros personagens que acompanharam a minha infância.

O pai, Emilio Salgari, havia nascido em Verona, e nunca navegou além da costa italiana. Nunca esteve no golfo de Maracaibo, nem na selva de Iucatã, nem nos portos de escravos da Costa do Marfim, nem conheceu os pescadores de pérolas das ilhas Filipinas, nem os sultões do Oriente, nem os piratas do mar, nem as girafas da África, nem os búfalos do Velho Oeste.

Mas graças a ele, eu sim, estive, eu sim, conheci.

Quando minha mãe não me deixava ir além da esquina de casa, os romances de Salgari me levaram a navegar os sete mares do mundo e outros mares mais.

Salgari me apresentou a Sandokan e a lady Mariana, seu amor impossível, a Yáñez, o navegador, ao Corsário Negro e a Honorata, a filha de seu inimigo, e a tantos amigos que ele havia inventado para que o salvassem da fome e o acompanhassem na solidão. (p.293)

*

Setembro

23

Navegações

Era chamada de Mulata de Córdoba, não se sabe por quê. Mulata era, mas havia nascido no porto de Veracruz, e lá vivia desde sempre.

Dizia-se que era feiticeira. Lá pelo ano de 1600 e qualquer coisa, o toque de suas mãos curava os enfermos e enlouquecia os sãos.

Suspeitando que o Demônio a habitasse, a Santa Inquisição trancou-a na fortaleza da ilha de San Juan de Ulúa.

Em sua cela, ela encontrou um carvão, que algum fogo antigo havia deixado lá.

Com esse carvão se pôs a rabiscar a parede; e sua mão desenhou, sem querer querendo, um barco. E o barco se soltou da parede e o mar aberto levou a prisioneira. (p.303)

*

Outubro

12

O Descobrimento

Em 1492, os nativos descobriram que eram índios,

descobriram que viviam na América,

descobriram que estavam nus,

descobriram que deviam obediência a um rei e a uma rainha de outro mundo e a um deus de outro céu,

e que esse deus havia inventado a culpa e o vestido

e que havia mandado que fosse queimado vivo quem adorasse o Sol e a Lua e a terra e a chuva que molha essa terra. (p.324)

*

Outubro

22

Dia da Medicina Natural

Os índios navajos curam cantando e pintando.

Essas artes medicinais, sagrado alento contra o desalento, acompanham o trabalho das ervas, da água e dos deuses.

Durante nove noites, noite após noite, o enfermo escuta o canto que espanta as sombras más que se meteram em seu corpo, enquanto os dedos do pintor pintam na areia flechas, sóis, luas, aves, arco-íris, raios, serpentes e tudo que ajuda a curar.

Concluídas as cerimônias de cura, o paciente volta para casa, os cantos se desvanecem e a areia pintada voa. (p.334)

*

Deixei esta história por último porque ela me chamou bastante a atenção. Gosto muito de uma música da banda australiana Midnight Oil, chamada Truganini e sei que faz referência a uma personagem da resistência nativa da região australiana, na época em que os ingleses conquistaram o território. Meu conhecimento acabava aí. Aí, veio o Galeano e me contou isto:

Maio

8

O demônio da Tasmânia

É famoso no mundo esse monstro diabólico, de bocarra aberta e dentes destroçadores de ossos.

Mas o verdadeiro demônio da Tasmânia não veio do Inferno: foi o império britânico que exterminou a população desta ilha, vizinha da Austrália, com o nobre propósito de civilizá-la.

A última vítima da guerra inglesa de conquista se chamava Truganini. Essa rainha despojada de seu reino morreu no dia de hoje de 1876, e com ela morreram a língua e a memória de seu povo. (p.154)

*

Pois é … Sad smile. De qualquer forma, fiquei curiosa e desejo conhecer melhor a história desta mulher. Foram muitas as coisas que aprendi lendo este livro e, acima de tudo, I had a very good time, como eles dizem lá. Espero que vocês também gostem dos trechos que escolhi e se sintam estimulados a ler, não só Os Filhos dos Dias, mas a obra do Eduardo Galeano como um todo. Vale a pena! E, evidentemente, eu falarei mais dele, por aqui. Deixo vocês, agora, com a Truganini, do Midnight Oil. Vou curtir meu feriado, afinal, também sou filha de Deus! mini_gifs76 Nos vemos na próxima postagem!

Abraços,

Lunamini_gifs185